sábado, 4 de abril de 2009

O lugar ideal


Sinto ter que escrever isso, mas essa é a minha última postagem nesse blog, foi muito bom compartilhar todos os meus sentimentos aqui...

Como foi dito no outro tópico, uma carta foi encontrada junto ao corpo do meu tio. Sem mais delongas, aí vai o que estava escrito na carta:

"Antes de tudo, queria pedir desculpas por tudo, meu filho. Seu tio sempre foi uma pessoa invejosa e gananciosa, e depois que eu e seu pai conseguimos ir para uma cidade grande sem sofrer as consequências como a maioria das pessoas, esses sentimentos dele pioraram. Mas, a verdade é que, ele tinha tudo o que alguém poderia desejar: viver longe do consumismo, e mesmo assim viver bem, mas isso não deixava ele feliz. Pedi para morar com ele, e após algum tempo a situação chegou ao extremo: ele sacou uma arma e apontou-a para mim, mas não conseguiu prosseguir, e se matou. Tudo o que eu peço é que não tente me procurar, pois você nunca consiguirá me achar, não perca seu tempo.
Por isso eu digo, o consumismo é a raíz de todos os problemas, ele gera violência, desemprego e desigualdade social.
A propósito, o aniversário do seu pai já está chegando, e acho que você já está grande o suficiente para saber a verdade: seu pai se matou. Era época de crise mundial, ele ficou muito individado, e se jogou do 19º andar do prédio da empresa onde ele trabalhava. Ele era uma boa pessoa, e o dinheiro acabou com tudo.
Filho, você não precisa tentar fugir do consumismo, até porque é quase impossível. Volte para Campinas, case, tenha filhos, e viva a vida normalmente.
Essa foi minha última carta. Adeus."

Depois de ler a carta, cheguei á conclusão que minha mãe enlouqueceu após a morte de meu pai.

--

Hoje, acordei na casa de José, e já estava melhor. Decidi pegar meu carro e minhas coisas, e ir sozinho até a casa da cachoeira, o corpo do meu tio já não estava mais lá, a perícia e ambulância já havia retirado. Passei por baixo da faixa amarela que estava escrito em negrito "interditado", e fui ao local do crime, onde encontrei um retrato dos meus pais, com meu tio e um homem conhecido ao lado: Joe Malcovick.
Resolvi ficar lá. Tirei minhas roupas, e nadei na cachoeira, respirando o ar puro da natureza, que agora não tinha cheiro de poluição.
O dinheiro que restou, joguei fora, agora decidi caçar meu próprio alimento, a floresta é grande, e tem muitos bichos. 
Esse sim é o lugar ideal, longe das pessoas, longe do consumo, longe dos problemas e do suicídio. E agora estou postando nesse blog direto do lugar ideal. A última postagem...

"Para que caridade, compaixão e uma alma solidária se a única coisa que interessa hoje em dia é consumir e gastar?" - Feliz aniversário, pai.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

A última carta


Preciso dizer algo muito importante antes de contar o que aconteceu hoje (que por sinal não foi nada bom): amanhã é o aniversário do meu pai, ele iria fazer 58 anos, então acredito que será um dia muito especial... Vamos ao que aconteceu hoje:

Acordei de manhã, com o ótimo sentimento de poder ver minha mãe e abraçá-la, como raramente fazia quando eu tinha a chance. José já estava acordado, tomei o café da manhã, café com leite e pão, e perguntei a ele onde minha mãe supostamente estava. Ele respondeu:
- Ocê não deve sabê, mas a Laura tem um irmão qui mora aqui perto do sertão, em um lugá lindo com cachuera i tudo.
Eu tinha um tio e nunca soube. Perguntei o motivo de minha mãe esconder isso de mim, José respondeu com o típico sotaque nordestino:
- Acho que é purque o teu pai e ele não eram muito amigos, eles si desintendiam muito.
Preferi não comentar mais sobre o assunto, fomos até meu carro e seguimos para a casa do meu TIO, que até hoje era apenas um desconhecido... até hoje...

O caminho inteiro era uma estrada de terra, então chegamos a um lugar onde não era possível entrar com o carro, então seguimos a pé. Já era possível ver a cachoeira, foi a primeira vez que vi uma água limpa como aquela, ainda haviam muitas árvores e montanhas naquele local, não tinha nenhuma alteração do homem na natureza, pode-se dizer que era uma das coisas mais incríveis do mundo. Mais adiante, no meio de toda essa beleza, havia uma casa bem simples, de 1 andar apenas, ao lado da casa um rio limpo, era possível ver os peixes nadando. Não havia porta, afinal, não tinha nenhum risco da casa ser assaltada, as janelas estavam abertas e até aquele momento não dava para avistar ninguém, nem minha mãe, nem meu tio, eles deviam estar dentro da casa.
José pediu para que eu fizesse silêncio, e entramos na casa.
Um cheiro estranho estava tomando conta do local, um cheiro capaz de acabar com o suave odor do ar puro da natureza, era cheiro de sangue. Imediatamente entrei em pânico, fui até o quarto no final do corredor da pequena casa, que não parecia tão pequena vista de dentro: o corredor nunca acabava, parecia mais um grande pesadelo, do qual era impossível acordar. No final do corredor, finalmente havia o quarto, e no quarto uma cena horrível: meu tio "desconhecido" estava em cima da cama, morto, e minha mãe não estava lá. Aquela cena me deixou sem reação, por um momento fiquei parado, mas depois me ajoelhei e comecei a chorar, José tentou me consolar (sem sucesso), e me entregou uma carta que estava ao lado do corpo de meu tio, a última carta da minha mãe.

Amanhã termino de contar, agora não tenho muito tempo para postar...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

De volta ao início


Depois de uma semana na estrada, finalmente cheguei ao nordeste. Logo me lembrei da cidade onde meus pais nasceram, uma pequena cidade localizada no sertão. Agora eu estou mais perto de reencontrar minha mãe, e talvez o lugar ideal, e o mais importante: distante dos policiais.

Claro que não vai ser tão facil assim de encontrar minha mãe, mas graças á ajuda de Joe agora tenho dinheiro o suficiente para permanecer aqui, pelo menos por 2 semanas. Quando cheguei no sertão, procurei por um homem que era amigo da minha familía desde pequeno, o nome dele é José, encontrei ele rapidamente, a cidade não é grande, portanto todos se conhecem por aqui. José me deixou ficar na casa dele, uma casa mais humilde que a de Joe, mas bem agradável, localizada ao lado de uma fazenda.

--
Sobre o sertão: Pelo que pude observar desde que cheguei aqui, a vida no sertão não é muito fácil, agora eu entendo pq meus pais saíram daqui, a seca é muito grande e as condições de vida são precárias. Eles tiveram sorte, pois muitas pessoas do sertão que migram para as cidades á procura de emprego não conseguem se adaptar, ficam desempregadas e algumas até morrem.
--

José já é um senhor de idade, mas muito simpático e amigável, com certeza ele estaria disposto a me ajudar, contei toda a história. Ele disse que não tinha visto minha mãe, mas talvez soubesse onde ela estava.
José pediu para que eu descanssase um pouco. Eu estava mesmo precisando, a viagem foi muito longa, peguei minha mala com minhas roupas e meu notebook, subi para o quarto e agora estou aqui postando.
É melhor eu ir dormir, amanhã será um longo dia, talvez finalmente poderei ver minha mãe outra vez.